Os fatos mais importantes de 2012
O
mundo não acabou no dia 21 de dezembro como sugeriam interpretações do
calendário maia, e, como era de se esperar, 2012 chega ao fim deixando seu
legado para a história da humanidade. Para analisar o ano que termina, o Opinião
e Notícia convidou cinco
especialistas a apontar o que para eles foram os fatos mais marcantes nas áreas
de política, economia e relações internacionais:
Geraldo
Tadeu Moreira Monteiro, professor de Ciência Política e diretor do Instituto
Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj): “Inquestionavelmente, o mais importante no
cenário político nacional foi o julgamento do processo do mensalão porque ele
provoca uma mudança de paradigmas. Nosso país era conhecido como o paraíso da
impunidade até recentemente. Levantamentos feitos pela imprensa sobre casos de
políticos julgados pelo STF mostram que quase não havia condenados e sim
processos com recursos que se eternizavam. Espero que o julgamento do mensalão
sinalize uma nova abordagem que começou ainda no ano passado com a lei da ficha
limpa, que já foi muito importante.
Em
segundo lugar, houve a polêmica em torno da distribuição dos royalties. Esse é
um debate que se arrasta desde 2007, quando foi descoberto o pré-sal, e tem
exposto algumas das fraturas federativas. A ameaça de derrubada do veto da
presidente Dilma mexe com muitas questões da ordem constitucional brasileira e
até mesmo com a base do governo. Até agora não houve uma mobilização para
impedir a derrubada do veto.
Em
terceiro lugar, claro, tivemos um ano eleitoral. As eleições locais não dão para
se ter uma ideia muito marcante do quadro nacional, mas elas indicaram um maior
pluralismo de partidos e lideranças nas capitais, por exemplo. E mais uma vez se
viu a vitória da aposta do ex-presidente Lula em um candidato sem experiência
eleitoral prévia, mas que acabou eleito (Fernando Haddad).
Gilberto
Braga, economista e professor da Ibmec-RJ: “Na economia, pode-se dizer
que foi um ano quase perdido, principalmente quando se constata que a economia
brasileira deve crescer algo próximo a 1,5%, o que acabou sendo apelidado pelos
especialistas de um ‘pibinho’, quando comparado com a previsão inicial de pelo
menos 4%. Contribuíram para isso a tímida resposta do setor externo e os sinais
claros de esgotamento da política de estímulos ao mercado interno.
No
front externo, a Europa pouco avançou. A eleição do socialista François Hollande
na França, com o um discurso de austeridade com desenvolvimento, confundiu os
economistas, que temiam por uma desintegração econômica da zona do euro. Essa
indefinição retardou várias decisões estratégicas, ao mesmo tempo em que outras
economias como as da Grécia, Holanda e Portugal sangravam em dificuldades. A
formação de um fundo de reserva, com a liderança da Alemanha, o apoio do FMI e a
gestão do Banco Central Europeu ajudou a desanuviar as tensões e a melhorar as
condições de recuperação da União Europeia.
A
disputada eleição dos Estados Unidos e a fraca recuperação de sua economia
lançam uma nova onda de pressão para o segundo mandato de Obama, que ainda
enfrentará uma situação fiscal difícil e sem folga. A China também diminuiu o
seu ritmo de expansão da atividade econômica, o que significa que todos com que
ela faz negócios venderão menos.
No
mercado interno brasileiro houve acertos na diminuição das taxas de juros e nas
desonerações tributárias. Entretanto, essas medidas não foram suficientes para
manter o mercado interno como mola propulsora da nossa economia. Hoje há
consenso que faltam medidas que estimulem os investimentos. A inflação foi muito
alta ainda, em boa parte devido à crise dos grãos no exterior que pressionaram
os preços dos alimentos, mas deve ceder um pouco em 2013. O ano novo deve ser
melhor do que 2012 na economia, com um PIB mais gordinho. Não muito, mas talvez
o suficiente para pegar um novo embalo para o futuro”.
Marcelo
Suano, sócio-diretor do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações
Internacionais (Ceiri) e analista de política
internacional: “Inicialmente,
deve ser destacada a reeleição de Barack Obama que implicará na manutenção da
política internacional de multilateralismo do atual mandatário estadunidense,
apesar da defesa unilateral de questões essenciais para o país ao redor do
mundo, em especial na Ásia e no Oriente Médio.
Destaca-se
também a eleição de Vladmir Putin na Rússia no início do ano, que, embora
esperada, representa um enrijecimento das políticas interna e externa. Isso pode
ser constatado nas propostas de modificação nas leis de segurança do Estado, com
maiores poderes para as forças policiais, e também num discurso de confronto
direto com as potências ocidentais na crise do Oriente Médio, uma vez que a
Rússia não hesitará em enfrentar quaisquer atores para manter sua influência na
região.
Na
América Latina, ganharam destaque os acontecimentos envolvendo o Mercosul e a
Venezuela. O impedimento do presidente Fernando Lugo seguido da suspensão do
Paraguai do bloco regional tiveram efeitos locais estruturais, pois permitiram e
aceleraram da entrada da Venezuela como membro efetivo do grupo. Tal
acontecimento ainda trará consequências, até nas questões jurídicas
internacionais, porque o Paraguai foi impedido de participar da negociação e
teve ignorado o seu posicionamento contrário à entrada dos venezuelanos com o
novo status. Agregada a este cenário está a reeleição de Hugo Chávez para
presidente da Venezuela em um pleito que refletiu a cisão interna no país, bem
como a possibilidade de surgimento de uma oposição unida para confrontar os
bolivarianos em um futuro breve que poderá ser acelerado com a doença de Hugo
Chávez. Se ele for mesmo incapaz de assumir o governo, haverá um vácuo de poder
no país que se refletirá em toda a América Latina.
No
Oriente Médio mantiveram-se como focos de tensão e pontos para reflexão dos
estrategistas principalmente: (1) a crise na Síria, que aumentou o grau da
violência e manteve o risco de se alastrar para o região; (2) as ameaças de
Israel bombardear as usinas nucleares iranianas, devido aos fracassos das
negociações para buscar uma alternativa ao programa nuclear persa e (3) a
paulatina centralização e tendência ao fundamentalismo islâmico do presidente
egípcio Mohamed Morsi, cujo país, embora no norte da África, afeta a política
de todo o Oriente Médio. A atual situação egípcia pode gerar manifestações
similares às que afastaram Hosni Mubarak. Isso levaria a uma nova crise no
país”.
Daniela
Alves, sócia-diretora do Ceiri: “Na Europa, o ano começou com comprovações
de que a recessão se manteria e, apesar das manifestações contra as medidas de
austeridade que levaram a eleições de líderes de esquerda contrários a elas,
suas políticas cederam à necessidade de controle dos gastos públicos.
Primeiramente, no mês de maio, os franceses, descontentes com o clima econômico,
votaram para tirar o presidente conservador Nicolas Sarkozy e dar poder aos
socialistas com François Hollande apostando contra as propostas de austeridade
que eram defendidas entre os europeus. Ele, no entanto, paulatinamente vem
guinando para o modelo de austeridade adotado em vários governos da Europa. A
impopularidade das medidas de austeridade pelo continente se estendeu, afetando
fortemente Portugal, Grécia e Espanha. Mesmo a estável Holanda ficou descontente
com o tamanho dos cortes que faria e antecipou suas eleições. A Espanha chegou
bem próximo ao abismo, com bancos sob risco de pedirem resgates bilionários e
com as mais altas taxas de desemprego de toda Europa. A crise gerou inúmeros
protestos e greves gerais em praticamente toda a União Europeia. A Alemanha se
manteve como a líder do bloco, mas as incertezas sobre a região aumentam
conforme se aproximam as eleições legislativas em 2013 no país.”
Fabricio
Bomjardim, consultor do Ceiri para Ásia: “A escolha de Xi Jinping para
presidente da China não refletiu em mudanças gerais, nem trouxe grandes
questionamentos sobre possíveis alterações nas políticas internas e externas
chinesas. Os desentendimentos territoriais no leste e sudeste asiático foram os
acontecimentos que mais impactaram no desenvolvimento das relações regionais. As
divergências entre chineses e sul-coreanos com o Japão resultaram em boicotes
comerciais, no congelamento dos planos de livre comércio regional, na redução de
investimentos e na lentidão da negociação de importantes acordos que estavam
para ser finalizados junto a Associação de Nações do Sudeste Asiático
(Asean)”.