O jornal DIÀRIO DE NATAL, dessa sexta-feira, 06 de janeiro, publicou a seguinte matéria sobre a explosão ocorrida no encerramento da Festa da Padroeira de Boa Saúde:
"Empresa de fogos não tem habite-se
Relatório sobre acidente em Boa Saúde também confirma que distância entre explosivos não foi respeitada
Paulo de Sousa // jpaulosousa.rn@dabr.com.br
Além de confirmar as várias irregularidades encontradas durante inspeção, o resultado do relatório do Corpo de Bombeiros sobre a queima de fogos que teria causado um acidente com 34 vítimas durante uma festividade na cidade de Boa Saúde, na noite da terça-feira, mostra que a empresa I.M. Pinheiro não tinha registro de Habite-se junto à corporação. É o que explica o chefe do setor de vistoria técnica do Corpo, o tenente Bombeiro Luís Gonzaga Fernandes, acrescentando que não foi respeitada a distância mínima de segurança entre a base de lançamento dos rojões e onde estava a multidão. "Pelo tipo de material usado, eles deveriam estar, ao menos, a 75m do evento, mas foram colocados a menos de 50".
O tenente diz que a empresa não possui registro de Habite-se junto ao Corpo de Bombeiros, nem é cadastrada na 2a. Delegacia Especializada de Armas e Munições (Dame), e sequer apresentou à corporação o certificado de formação de qualquer técnico no curso de blaster, específico para profissionais de queima de fogos e oferecido pelas Forças Armadas. Todos esses documentos, segundo Luís Gonzaga, seriam o mínimo necessário para que a empresa pudesse operar. O bombeiro explica que foi pedido à prefeitura de Boa Saúde toda a documentação apresentada pela I.M. Pinheiros, "mas a nós foram entregues somente papéis relativos ao débito fiscal, contrato de licitação e o tipo de fogos comprados para o envento".Luís Gonzaga explica que o relatório se baseou principalmente no aspecto técnico da queima. Foram usados rojões de calibre três e morteiros no show pirotécnico. Segundo o tentente, esses objetos teriam sido colocados, principalmente, na posição vertical. Por isso, a distância regulamentar de segurança deveria ter sido bem maior do que a usada em Boa Saúde. Além disso, nenhum planejamento foi entregue ao Corpo de Bombeiros, que deveria ter sido informado para fazer uma vistoria cinco dias antes.O chefe de setor de vistoria informa que o relatório foi entregue ao comando geral da corporação e uma cópia será enviada para a prefeitura de Boa Saúde. "Outra cópia deve ser solicitada pelo delegado que cuida do inquérito e se juntará ao laudo pericial do Itep (Instituto Técnico-Científico de Polícia)". Segundo o tenente Gonzaga, será a polícia que apontará os responsáveis pelo acidente. O delegado Sérgio Freitas, responsável pela delegacia regional de São Paulo do Potengi e que preside o inquérito sobre o acidente, informa que ouviu três vítimas na quinta-feira e iria ouvir outras cinco ontem, mas todos confirmam que foi um dos fogos que caiu sobre o quiosque, em meio à multidão. Tais depoimentos praticamente descartam a hipótese de explosão de um botijão de gás que foi ventilada. "Agora devo aguardar o laudo do Itep". Ainda ontem, o próprio delegado foi fazer uma nova vistoria no local do acidente. "Queria tirar algumas dúvidas".
A explosão
O acidente ocorreu por volta das 20h30 da terça-feira, durante o encerramento das festividades de Nossa Senhora da Boa Saúde, padroeira da cidade, durante a queima de fogos. Segundo o Coronel Francisco Reinaldo Lima, comandante do Comando de Policiamento do Interior, um dos fogos de artifício teria desviado o percurso e caído sobre um quiosque e explodiu no chão. Ao todo, 22 foram socorridas no Hospital Municipal Dr. Januário Cicco, enquanto que 12 outras foram levadas para o Pronto Socorro Clóvis Sarinho, em Natal, sendo quatro delas em estado grave. A equipe do Diário de Natal tentou contato com a empresa I.M. Pinheiros através de números de celulares fornecidos pelos Bombeiros, mas eles estavam o tempo todo desligados. "Nem nós conseguimos contato com eles", diz Gonzaga".