Estamos
nos aproximando da Festa de Nossa Senhora da Saúde, Padroeira da cidade Boa Saúde/RN,
um evento mais que centenário e de grande importância sócioreligiosa para a
comunidade e para a região. A devoção a Nossa Senhora da Saúde surgiu no
México, em 1538. Em Boa Saúde essa
devoção tem mais de 136 anos. É importante que saibamos um pouco mais sobre origem
da imagem Nossa Senhora da Saúde e outros aspectos relacionados com a
construção da sua capela e a “Festa de 2 de Fevereiro” ou Festa da Padroeira.
Onde e como surgiu a devoção a
Nossa Senhora da Saúde
Na
América Latina, a devoção
a Nossa Senhora
da Saúde começou no México. Em 1538, os índios
Patzcuaro esculpiram sua primeira imagem.
Em
Portugal teve início em Lisboa, em
1569, por ocasião
de uma grande peste.
No
Brasil essa devoção foi trazida pelos portugueses para os estados da Bahia, Rio de Janeiro e Minas
Gerais e, depois
se expandiu para todo
o Brasil.
No Rio
Grande do Norte
a devoção a Nossa
Senhora da Saúde,
na cidade de Boa Saúde,
começou com a construção
da capela e a vinda
da imagem da Europa, mais provavelmente de Portugal, por
iniciativa de Luiz Francisco da Costa, conhecido
como Luiz Cachoeira.
São muitos
os devotos de Nossa
Senhora da Saúde,
que durante
o ano, visitam sua
capela para obter ou agradecer uma graça por sua intercessão. Mas,
nos dias
31 de janeiro, 01 e 02 de fevereiro é que
mais de 10 mil
pessoas, a cada
noite, participam da tradicional Festa da Padroeira.
A consolidação dessa devoção a Nossa
Senhora da Saúde,
segundo a tradição,
completa mais de 133 anos em fevereiro de 2012, constituindo-se num patrimônio imaterial da cidade
de Boa Saúde.
Pesquisa e texto
de José Alaí de Souza
A Imagem de Nossa Senhora
da Saúde
“A imagem de Nossa Senhora da Saúde, Luiz
Cachoeira teria mandado buscar na Europa, o que, pelas características da
santa, é mais provável, contrariando a versão de que a mesma teria vindo do
Juazeiro, trazida por um grupo de romeiros. Por outro lado, algumas evidências
contribuem para a aceitação da hipótese de que sua origem é européia: a
existência do povoado com a denominação de Boa Saúde, em 1878, conforme documento
do Cartório de São José de Mipibu, e a ocorrência do milagre da beata Maria de
Araújo, onze anos depois, em 1899, quando a partir daí foi que se iniciou a
devoção ao Padre Cícero e começaram as romarias ao Juazeiro.”
“Segundo o professor da UFRN. Senhor Antônio
Marques de Carvalho Júnior, estudioso e expert em arte sacra e antiguidades, a
imagem de Nossa Senhora da Saúde, ‘Do ponto de vista do estilo pode-se dizer
que se trata de uma escultura de influência barroca, mas já tendendo para o
neo-clássico, caracterizado pelo panejamento sóbrio, com pouco movimento. O
pedestal ou base é extremamente simples, sendo pois mais um forte indicador de
uma escultura saída de uma manufatura européia do século XIX,entre 1800 e
1860.’ Sobre a sua origem, ele tem a seguinte opinião: ‘A hipótese de sua
origem ser a cidade do Juazeiro do Norte não tem a menor possibilidade pois
trata-se de uma escultura de fatura erudita e não tem cunho popular.”
Fonte: BOA SAÚDE – Origem e História, dos autores
osé Alai de Souza e Maria de Deus
Souza Araújo
Festa da Padroeira
Podemos
dizer, sem sombra de dúvidas,
que a Festa
de Nossa Senhora
da Saúde é a mais
forte tradição
sócioreligiosa da nossa terra
reunindo milhares de pessoas dos municípios
vizinhos, de outras regiões
e de outros estados. Ela faz parte
da nossa história
e se constitui num patrimônio imaterial da cidade
de Boa Saúde, no Rio
Grande do Norte,
e do nosso povo.
A
“Festa de 2 de Fevereiro”,
como também
é conhecida, reúne o sagrado e o profano,
a devoção e o prazer,
o agradecimento e a esperança. A persistência secular e a capacidade de agregar novas características
ao referido evento são
responsáveis pela
manutenção da tradição,
apesar dos impactos
recebidos da sociedade moderna.
A
Festa de Nossa Senhora da Saúde em 2012 completa mais 134 anos, uma vez que o
documento mais antigo que se conhece e faz referências ao nome de Boa Saúde,
data de 22 de junho de 1878 (Fonte: Boa Saúde Origem e História, paginas 31 e
32).
Realizada
no período de 24 de janeiro a 02 de fevereiro, a Festa de Nossa Senhora da
Saúde conta com maior afluência de público no período de 31 de janeiro a 02 de
fevereiro quando a cidade recebe maior número de devotos, pagadores de promessa
e público em geral, principalmente, por ocasião procissão e a missa de
enceramento.
Um
evento do porte da Festa de Nossa
Senhora da Saúde, além do aspecto religioso, tem um grande potencial em termos
de gerar receita para a igreja e para os setores do comércio e de serviços. Por
isso requer um maior entrosamento dos setores
da Igreja e do Poder
Público, bem como num planejamento
levando em conta
todos os seus
aspectos e priorizando aspectos como: trânsito e estacionamento, segurança,
sanitários públicos, localização adequada dos ambulantes, barracas e locais de
realização de bailes e shows.
Texto
de José Alai de Souza
Capela de
Nossa Senhora da Saúde- Boa Saúde/RN
Segundo consta nas páginas
37 e 38 do livro Boa Saúde – Origem e História “Não se sabe, com exatidão a
época da construção da primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Saúde. O
mais provável é que tenha ocorrido antes de 1878, quando documentos já mencionados evidenciam a existência do
povoado com o nome de Boa Saúde, que teria
começado a crescer a partir da referida construção e da devoção a Nossa
Senhora da Saúde, após a propagação da cura a ela atribuída.
Edificada por iniciativa
de Luiz Francisco da Costa, conhecido como Luiz Cachoeira, contando com o apoio
das famílias residentes na localidade e com a colaboração dos demais Cachoeira,
a referida capela teve como pedreiro o senhor Antônio Badamero Sacca. Segundo
os moradores mais antigos, a madeira utilizada na sua cobertura foi retirada
das proximidades da construção, que era do tipo duas águas, com uma única porta
larga na frente. A imagem de Nossa Senhora da Saúde, Luiz Cachoeira teria mandado
buscar em Roma, enquanto o sino, teria sido uma doação de Pedro Francisco da
Costa, denominado de Pedro Cachoeira, sendo desconhecida a sua origem,
sabendo-se, entretanto, que foi trazido de Macaíba, em lombo de burro.
A primeira capela, muitos
anos depois, foi reformada e ampliada, como mostra a sua foto. Tinha uma
fachada em estilo colonial e o seu interior era constituído pela nave-central separada
da capela-mor por uma grande arcada. Nas laterais existiam corredores separados
da parte central por arcadas menores. Possuía um único altar, formado por
vários degraus e três nichos com as imagens de Nossa Senhora da Saúde, ao
centro, ladeada por São Sebastião e Nossa Senhora da Apresentação.
Em frente à igreja,
existia um cruzeiro de madeira com pedestal de alvenaria”.
No início da década de
1960, quando o vigário de Serra Caiada era o Padre Antônio Vilela Dantas, a
igreja antiga foi demolida e no seu lugar foi erguida outra, com características
arquitetônicas modernas e um altar de mármore que foi doado por Manoel Ribeiro
de Andrade. Em seguida, na administração paroquial de Padre José Amorim foi
construída uma torre e, na permanência de Padre José Manoel na Paróquia de
Serra Caiada teve a fachada principal modificada e azulejada.
Atualmente (2011) a igreja passa pelas seguintes
reformas na capela-mor: rebaixamento do teto e colocação de novas luminárias;
ampliação da base do altar e colocação de nova mesa em granito; nicho para a
padroeira; novo sacrário e reprodução da pintura de um Cristo do artista
plástico Cláudio Pastro. O projeto da reforma é do Padre João Batista Chaves da
Rocha, Capelão da Polícia Militar e Coordenador da Comissão de Arte Sacra da
Arquidiocese de Natal.
Potencial de Boa Saúde/RN X O
turismo religioso
O objetivo deste artigo é despertar a
atenção dos poderes executivo e legislativo do município, órgãos públicos,
igreja católica e outras entidades, forças produtivas e a população de Boa
Saúde, para o potencial que a cidade possui em relação ao desenvolvimento de
uma modalidade de turismo: o religioso. Modalidade diferente de todos os outros segmentos do mercado do turismo,
pois tem como motivação fundamental a fé, estando, portanto ligado
profundamente ao calendário religioso da localidade receptora do fluxo
turístico.
A EMBRATUR definiu o turismo religioso como aquele
motivado pela fé ou necessidade de cultura religiosa, seja através de
visitações a igrejas e santuários, seja por peregrinação, romarias ou congressos
eucarísticos.
Segundo
a mesma entidade, o turismo cultural é aquele que se pratica para satisfazer o
desejo de emoções artísticas e informações culturais, visando à visitação a
monumentos históricos, obras de arte, relíquias, antiguidades, concertos,
musicais, museus. Um, portanto está, de certo modo, muito associado ao outro.
Oturismo religioso, pouco
difundido no Rio Grande do Norte, pode contribuir consideravelmente para
transformar determinadas localidades, como Boa Saúde, num lugar privilegiado de
evangelização, de celebração e de promoção humana, fortalecendo a prática da
vivência cristã através dos diversos serviços, pastorais, associações e
movimentos religiosos. Pode, ainda, proporcionar à comunidade: momentos fortes
de animação e celebração para o povo em geral, além da festa da padroeira e
outros eventos tradicionais, como ocorre, atualmente, em Santa Cruz, a partir
da devoção a Santa Rita de Cáscia.
Boa Saúde
possui um grande potencial para o turismo religioso, a começar pelo nome do
povoado que teve origem na devoção a Nossa Senhora da Saúde, como mostra a sua
memória histórica, através de mais de uma versão: Uma de
que romeiros teriam
trazido a imagem
de Nossa Senhora da Saúde, do Juazeiro e o povoado passou a chamar-se
Boa Saúde. Outra, de que os Cachoeira teriam construído uma capela dedicada a
Nossa Senhora da Saúde, depois que uma pessoa da família ficou curada após
banhar-se no rio onde existia muito muçambê. E, ainda a de que um viajante
teria adoecido quando de passagem pela localidade e ao ficar curado teria
exclamado: “este é um lugar abençoado, um lugar de muita saúde”.
A construção da capela de Nossa Senhora da Saúde
não foi por acaso: teve como origem mais provável o fato de uma pessoa ter sido
curada alcançando uma graça pela sua intercessão. E, deste fato, a repercussão
maior foi o crescimento do povoado sob a devoção a Nossa Senhora da Saúde.
Outro
aspecto que potencializa o turismo religioso em Boa Saúde é a magnitude da
festa da padroeira, um dos maiores eventos sócioreligiosos do Agreste Potiguar
e que agora em 2012 completa mais de 133 anos de tradição que, a cada ano,
conta com o aumento o fluxo de devotos, pagadores de promessas, boasaudenses em
visita a terra natal e público em geral,
estimado em mais de 10 mil pessoas por noite, durante 31 de janeiro e, 01 e 02
de fevereiro, todos os anos. Há de se considerar, ainda, que no Rio Grande do
Norte a devoção a N. Sra. da Saúde tem como centro a cidade de Boa Saúde e, não
se tem notícia que outro município do Nordeste
tenha como padroeira N. Sra. da Saúde.
Estudar estas potencialidades e elaborar uma proposta para a implantação do
Turismo Religioso em Boa Saúde contribuirá para: 1) O fortalecimento da evangelização, da
vivencia cristã e da promoção humana; 2) O fortalecimento da
economia e dos aspectos sócioculturais, históricos e políticos.
Um projeto dessa natureza e magnitude requer o comprometimento, o empenho e
a parceria do poder público (legislativo e executivo ), da igreja, das forças
produtivas e da sociedade como um todo.
Texto de José Alaí de Souza, publicado no Jornal da Cidadania de fevereiro/2009